3 livros com temática feminista

15:30

No ano passado, eu tive o prazer de ler mais autoras mulheres do que o normal, não sei se foi por obra do destino ou inconscientemente, mas a verdade é que eu acabei por ler algumas obras que não só foram escritas por mulheres, como também tinham como protagonistas mulheres fortes e com enredos que suscitam a discussão feminista. Pensando nisso, resolvi indicar três obras com essa temática para vocês. Vamos às indicações:

O papel de parede amarelo e a crítica à relação marido e mulher
Belíssima edição da editora José Olympio, com textos de apoio excelentes.
Nesse conto escrito em 1891 por Charlotte Perkins Gilman, uma mulher é levada pelo seu marido para passar um período em uma casa de campo, devido a um problema de saúde, uma "depressão nervosa passageira -  uma ligeira propensão à histeria". Lá, ela é acomodada em um quarto com um horrendo papel de parede amarelo, que desde o início a perturba intensamente.

Percebe-se que, embora ela discorde do marido, ela não ousa desafiá-lo, mas não por medo, e sim porque ela acredita que ele está certo e o problema é ela. Essa culpa que ela sente é incitada pelo próprio marido, que a fica tratando como "bobinha" e a priva de fazer o que ela gosta que é escrever. Sendo assim, aos poucos ela vai perdendo a sanidade e o desfecho é chocante.

Nesse conto, vê-se uma crítica clara a relação de submissão da mulher que não questiona o marido, e que é manipulada psicologicamente, o famoso gaslighting
Pode-se fazer um paralelo com nossa sociedade atual, com os relacionamentos abusivos em que a mulher sofre nas mãos de parceiros agressivos. Ou ainda, nos casos em que a vítima é sempre culpabilizada.


Orlando e a crítica ao papel dos sexos



Em Orlando, de Virginia Woolf, o protagonista homônimo inicia a narrativa como um jovem rapaz que vive na Inglaterra do século XVI no seio de uma família abastada. BUT, depois de dormir durante sete noites turbulentas, Orlando acorda e é uma mulher. Sim, uma mulher!

Apesar de ser uma narrativa um tanto quanto fantástica, Orlando nos mostra que, com a mudança do sexo, as cobranças da sociedade para com a sua conduta mudam totalmente. Apesar de ser a mesma pessoa, Orlando precisa agora ser recatada e "se dar ao respeito", embora quando ele era homem podia "passar o rodo", como o perdão pela expressão.

Pode-se fazer um paralelo com nossa sociedade atual, em que as mulheres são julgadas pelas roupas e pelas atitudes que a condenam como promíscua, enquanto, nos homens, a sexualidade é instigada desde criança.

A cor púrpura e o empoderamento entre mulheres


Em A cor púrpura, temos a estória de Celie, uma mulher oprimida, pobre e negra, que tem os filhos arrancados e é afastada da irmã. Ainda, ela é forçada a ser casar e precisa aguentar as agressões e traições do marido. E quando ela precisa hospedar uma amante do seu marido, Shug avery, que está doente, em sua casa, surge uma amizade de início improvável entre as duas. Elas se unem e Shug a ajuda e se defender e a se valorizar. 

É um relato de resiliência e, também, sororidade. Mostra que mulheres não precisam ser inimigas e que podem e devem empoderar as outras não ficar se brigando por macho.

Espero que tenham gostado das dicas. Beijinhos, Hel.

Referências:

GILMAN, Charlotte Perkins. O papel de parede amarelo. Tradução de Diogo Henriques. 1ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016. 110 p.

WALKER, Alice. A cor púrpura. 10ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016. 335 p. Tradução de Betúlia Machado, Maria José Silveira e Peg Bodelson.

WOOLF, Virginia. Orlando. Tradução de Laura Alves. Rio de Janeiro: Ediouro, 1994. 238 p.

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9 comentários

  1. Oiii

    Primeiramente, feliz dia das mulheres!! ☺️

    Adorei suas indicações.. Já tinha ouvido falar de Virgínia Woolf e também do livro - A cor púrpura, mas nunca li. Gostei de todos que vc postou aqui e já anotei na minha lista!! Gosto de leituras que retratam a vida de mulheres fortes!!

    Beijossss
    Jo - www.curtaleitura.com.br

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    1. Oi, Jo. Tudo bem?
      Com certeza as mulheres retratadas nesses livros são incríveis, vale apena conhecê-las.
      Boas leituras.

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  2. Oi, Hel!

    Adorei suas indicações. Amo "A Cor Púrpura", tudo aquilo que o livro transmite.
    Tenho muita vontade de ler "O papel de parede amarelo". E gostei do que você falou sobre "Orlando", tenho certo receio com a autora, pois tentei iniciar um livro e não deu muito certo, mas quem sabe "Orlando" seja o livro certo dela para eu começar a ler.

    Beijos

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    1. Oi, Thami!
      Eu tbm sempre tive medo de ler Virginia Wolf, pois achava que seria muito difícil. Não vou dizer que foi uma leitura molezinha (com certeza preciso reler pra absorver mais um pouco), mas eu me vi gostando demais e tive minhas expectativas totalmente superadas. Não li outros da autora, mas recomendo esse pois muita gente diz ser mais fácil. Se quiseres ler eu sei que tem exemplares na biblio da Unesc ;)

      Bjs

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  3. gosto demais de orlando e a cor púrpura. li os dois emprestados de bibliotecas faz tempo. e vi uma peça adaptada de orlando maravilhosa. inesquecível. uma das melhores peças que já vi na vida. o filme de cor púrpura tb é muito impactante. beijos, pedrita

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    1. Oi, Pedrita, eu tbm li esses dois emprestados da biblioteca da minha universidade, edições bem antigas. Recentemente recebi uma reedição de cortesia da José Olympio e fiquei muito feliz. :)

      Ainda vou assistir ao filme, todos falam muito bem!
      Bjs

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  4. Que post lindo e importante!
    Tenho muita curiosidade em ler Orlando, assim que tiver a oportunidade, lerei.
    Tô chateada comigo mesma por não ter programado nada especial no canal pra esse dia... Acabei esquecendo com a correria da formatura, hahahah
    Beijinhos!

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    1. Oi, Júlia! Que bom que vc gostou!
      Não fica chateada, todo dia é dia de indicar livros empoderadores e essa é só uma data pra simbolizar. Eu sei que essa data é bem importante pra vc, mas ano que vem tenho certeza que vc vai pensar em algo bem legal.
      Até lá, a luta continua!
      Beijinhos.

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  5. Quero ler todos esses livros!! Acho que de todos, a discussão mais genial (pela proposta apenas) é Orlando, por se passar numa época em que nós mulheres éramos meras reprodutoras. E trazer isso pela visão de um homem que "mudou de sexo" é sensacional por nos mostrar a questão por outro prisma, já que por mais que seja horrivel a situação, passando-se pela visão da mulher há a tal da "normalização" da situação. Outro ponto: seria muito estranho se no seculo XVI uma mulher questionasse "seu lugar". Por mais que ela não fosse comformista, alguns aspectos da tradição seriam tão arraigados a ela que ela mal questionaria, já que à época não se havia o conceito social de ser quem você quiser, mas o de que Deus quiser. (Mesmo sendo Renascimento, ainda tinha muito dessa visão na Europa). Com um homem, as limitações de repente impostas a ele se tornam muito mais chocantes e de certa forma deixa a mentalidade do personagem mais verossímel. Os outros dois são mais voltados para nosso dia a dia e o que ocorre à gente ainda hoje... Também parecem trazer discussões maravilhosas!
    Parabéns pelo texto e pela seleção, Hel! E pelo seu dia tambem!!

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